As ondas de calor que atingem o Brasil não são apenas desconfortáveis; elas representam uma ameaça real para a população mais vulnerável. Um estudo recente da Fiocruz revelou dados alarmantes: em dias com temperaturas superiores a 40°C, a mortalidade entre idosos com doenças crônicas pode aumentar em até 50%.
A pesquisa analisou 466 mil registros de óbitos naturais entre 2012 e 2024, identificando um aumento expressivo de mortes em dias de calor extremo. Doenças como hipertensão, diabetes, insuficiência renal, Alzheimer e infecções do trato urinário estão entre as principais condições que agravam esse cenário. A correlação entre o calor intenso e a mortalidade foi evidenciada com base no Protocolo de Calor da Prefeitura do Rio de Janeiro, que estabelece diferentes níveis de risco. No Nível 4, quando as temperaturas ultrapassam 40°C por mais de quatro horas, o impacto na saúde já é significativo. No Nível 5, com temperaturas acima de 44°C por pelo menos duas horas, os riscos se tornam ainda mais elevados.
Onda de calor recorde no Rio de Janeiro
Recentemente, o Rio de Janeiro bateu um recorde histórico ao registrar 44°C em Guaratiba, na zona oeste da cidade. Essa foi a temperatura mais alta desde o início das medições em 2014. Como consequência, a cidade entrou em Nível de Calor 4, um dos mais elevados do protocolo municipal. A medida foi criada após a morte de uma fã por exaustão térmica durante um show no Engenhão, em 2023.
As ondas de calor cada vez mais frequentes e intensas são um reflexo das mudanças climáticas. Segundo o programa europeu Copernicus, os últimos dois anos foram os mais quentes da história do Rio, e 2024 foi o primeiro a ultrapassar 1,5°C de aumento na temperatura média global.
Quem está mais vulnerável?
O impacto do calor não é igual para todos. Idosos, trabalhadores expostos ao sol, pessoas em situação de rua e moradores de regiões sem infraestrutura adequada sofrem mais com as temperaturas extremas.
Um fator que agrava ainda mais o problema são as ilhas de calor, fenômeno comum em áreas urbanas densamente construídas, onde a falta de vegetação e o excesso de superfícies de concreto e asfalto elevam ainda mais a temperatura local. O estudo também introduziu um novo indicador, a Área de Exposição ao Calor (AEC), que leva em consideração tanto a temperatura quanto o tempo de exposição ao calor extremo. Em novembro de 2023, por exemplo, quando a AEC superou 44°C por oito horas consecutivas, houve um pico de 151 mortes de idosos no dia seguinte.
O que pode ser feito?
Diante desse cenário, especialistas reforçam a necessidade de medidas de adaptação climática e políticas públicas eficazes para minimizar os impactos das ondas de calor. Entre as ações recomendadas estão:
- Criação de pontos de hidratação em locais de grande circulação;
- Adaptação de jornadas de trabalho, reduzindo a exposição ao sol nos horários mais quentes;
- Aumento de áreas verdes urbanas para mitigar o efeito das ilhas de calor;
- Suspensão de atividades de risco durante ondas de calor extremas;
- Monitoramento de grupos vulneráveis, garantindo suporte adequado em dias críticos.
Para a população em geral, algumas medidas simples também podem fazer a diferença: manter-se hidratado, evitar a exposição ao sol entre 10h e 16h, usar roupas leves e procurar locais frescos sempre que possível.
Um desafio crescente
As mudanças climáticas já estão impactando a vida urbana e a saúde da população. O calor extremo não é apenas uma questão de conforto, mas sim uma emergência de saúde pública. Enquanto os recordes de temperatura continuam sendo quebrados, a adaptação das cidades e das políticas de proteção à população vulnerável se tornam mais urgentes do que nunca.
A ciência já deu o alerta. Agora, cabe à sociedade e aos gestores públicos agirem para evitar que o calor extremo continue ceifando vidas.
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