As mudanças climáticas são um dos maiores desafios do século XXI, e a pecuária tem um papel significativo nesse cenário. Responsável por cerca de 30% das emissões globais de metano - um gás com potencial de aquecimento global 28 vezes maior que o dióxido de carbono -, o setor busca soluções tecnológicas para minimizar seu impacto ambiental.

Uma das iniciativas mais promissoras vem do Bezos Earth Fund, fundo criado por Jeff Bezos, fundador da Amazon, para financiar projetos de combate às mudanças climáticas. Com um investimento de US$9,4 milhões, o fundo apoia o desenvolvimento de uma vacina inovadora capaz de reduzir a emissão de metano bovino em até 30% com uma única dose.

Como funciona a tecnologia?

O projeto, conduzido pelo Pirbright Institute, no Reino Unido, em parceria com a AgResearch, da Nova Zelândia, e o Royal Veterinary College, tem como objetivo estimular o sistema imunológico dos bovinos a produzir anticorpos que atacam as bactérias metanogênicas no estômago dos animais. Essas bactérias são as responsáveis pela fermentação da matéria vegetal e, consequentemente, pela liberação de metano.

Se comprovada eficaz, essa abordagem pode representar uma revolução para a pecuária sustentável, especialmente em sistemas de produção extensiva, onde alternativas como suplementos alimentares para redução de emissões enfrentam desafios logísticos.

Desafios e perspectivas

Apesar do potencial da vacina, ainda existem desafios a serem superados. Do ponto de vista científico, não há garantia de que o sistema imunológico dos bovinos possa ser treinado para regular a produção de metano de forma eficaz. Além disso, a distribuição e aplicação da vacina em larga escala são fatores que podem impactar sua adoção global.

Outro ponto crucial é a aceitação pelo setor agropecuário e pela sociedade. Tecnologias voltadas para a redução de emissões na pecuária já enfrentaram resistência no passado, muitas vezes devido à falta de informação sobre segurança alimentar e possíveis impactos na cadeia produtiva.

O papel da Amazon e o paradoxo ambiental

Enquanto Jeff Bezos investe em soluções para mitigar as emissões da pecuária, a Amazon, empresa que fundou, segue como uma das maiores emissoras de CO2 do mundo. Em 2022, suas emissões ultrapassaram as de diversos países inteiros, principalmente devido à alta demanda logística e ao consumo de energia de seus centros de distribuição e data centers.

Esse cenário levanta debates sobre o impacto real das iniciativas privadas no combate às mudanças climáticas. No entanto, especialistas apontam que a transição para um modelo mais sustentável é um processo gradual e que soluções como a vacina contra o metano bovino representam um passo importante dentro do que está ao alcance da iniciativa privada.

Brasil e a rastreabilidade do gado

Enquanto a ciência busca reduzir as emissões do setor pecuário, o Brasil avança com medidas para garantir a sustentabilidade da cadeia de produção de carne. Em resposta às exigências do mercado internacional, especialmente da União Europeia, o governo brasileiro lançou recentemente o Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos, conhecido como “RG do Boi”.

O sistema prevê que cada animal seja identificado e rastreado desde o nascimento até o abate, permitindo maior controle sobre a origem da carne e ajudando a evitar a comercialização de produtos provenientes de áreas de desmatamento ilegal. Com isso, o Brasil busca consolidar sua posição no mercado global de carne bovina, garantindo conformidade com regulações ambientais cada vez mais rigorosas.

O futuro da pecuária sustentável

Combinando avanços tecnológicos e políticas públicas, o setor pecuário está passando por uma transformação. O desenvolvimento de novas tecnologias, como a vacina contra o metano, e a adoção de sistemas de rastreabilidade, como o RG do Boi, indicam que a indústria está se adaptando a um futuro mais sustentável.

No entanto, a eficácia dessas medidas dependerá da colaboração entre governos, empresas e consumidores. À medida que novas regulamentações e demandas do mercado surgem, a pecuária global precisará equilibrar produção, eficiência econômica e compromisso ambiental para garantir um futuro mais verde e responsável.

Veja o conteúdo em: https://www.instagram.com/reel/DGOf2ICIhza/